15 outubro 2008

DIA DO PROFESSOR


Violência e baixos salários levam 45,7% dos professores ao estresseAs condições de trabalho muitas vezes precárias, além de influenciar diretamente no ensino, são os principais fatores que levam ao afastamento dos educadores. Violência, indisciplina, desvalorização profissional, infra-estrutura inadequada, número excessivo de alunos por sala e questões ambientais, como excesso de ruído, são apontados por especialistas como fatores preponderantes nos pedidos de licença médica dos professores da rede pública. Em muitos dos casos, as salas de aula ficam vazias e os pátios abarrotados de estudantes, sem substitutos para ensinar-lhes e com raros casos em que há reposições de aulas.

No Dia do Professor, comemorado hoje, 15 de outubro, a terceira reportagem da série A violência diz presente, do Estado de Minas, mostra as conseqüências desse quadro e os dramas de profissionais que sofrem com a falta de limite de estudantes. Levantamento inédito com números do banco de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) – autarquia ligada ao Ministério da Educação (MEC) – revela que 45,71% dos professores da rede pública de ensino do país se sentem estressados e sofrem com problemas emocionais. Em Belo Horizonte, os dados são preocupantes.

A estatística é confirmada, com agravantes, pela dissertação de mestrado O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Apresentado em 2006 por Sandra Maria Gasparini, no programa de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o estudo traça relação entre os traumas físicos e mentais dos educadores e a deterioração da estrutura escolar. Para mostrar a associação entre os fatores, a especialista analisou atestados médicos relativos ao afastamento de servidores da Secretaria Municipal de Educação (Smed), cedidos pela Gerência de Saúde do Servidor e Perícia Médica da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação em Minas Gerais (Sind-UTE/MG).

A análise do banco de dados indica que, em dois anos, foram feitos 29.016 diagnósticos que resultaram em licença médica de funcionários. O primeiro motivo da lista para afastamento se refere a transtornos mentais, com 4.580 casos (15,78%). Os malefícios podem ser classificados de acordo com o potencial. Entre os de maior gravidade estão doenças como esquizofrenia e transtorno bipolar; entre os mais brandos, enxaqueca, alteração do sono, mal-estar e sintomas depressivos.

Esgotamento - Há ainda doenças do aparelho respiratório, com 3.466 afastamentos (11,94%), seguidas de problemas no sistema osteomolecular e nos tecidos conjuntivos, com 3.195 licenças (11,01%). A pesquisadora diz que diversos fatores estão ligados ao aparecimento dos sintomas, por se tratar de doenças com múltiplas causas. “As circunstâncias pelas quais os professores mobilizam suas capacidades físicas, cognitivas e afetivas para atingir os objetivos da produção escolar podem gerar esgotamento. Se não há tempo para a recuperação, são desencadeados os sintomas clínicos que explicariam os índices de afastamento do trabalho por transtornos mentais.”

O acúmulo de funções do professor, antes tido apenas como transmissor de conhecimento e, hoje, obrigado a desempenhar papéis extra-classe, como participar da gestão e do relacionamento com as famílias e a comunidade, é apontado como uma das deficiências do sistema educacional. Segundo o estudo, “a administração escolar não disponibiliza os meios pedagógicos necessários para a realização das tarefas exigidas. Os professores têm de buscar, pelos próprios meios, maneiras de se requalificar”.

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