19 janeiro 2015

Brasileiro morto na Indonésia achava que nunca seria fuzilado

"Olha só: quando eu sair daqui, vou até São Paulo e a gente se encontra."

Preso em um país que impõe pena capital a traficantes, sem direito a recurso na Justiça e depois que dois presidentes indonésios haviam lhe negado perdão, o carioca Marco Archer Cardoso Moreira, 53, fazia planos para o futuro por telefone, na terça (13).

Ele jamais achou que fosse ser fuzilado. Foi executado às 15h30 de sábado (17) .

Voltar ao Rio, onde nasceu, era uma menção recorrente em suas conversas. Os planos de futuro apareciam em conversas com amigos e a tia Maria de Lourdes, única familiar com quem teve contato após a morte da mãe em 2010. O pai já havia morrido, e ele não tinha mulher nem filhos.

O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, executado na Indonésia neste sábado (17)

O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, executado na Indonésia neste sábado (17) 

Embora sonhasse com a liberdade, o brasileiro nunca esteve perto dela desde que foi preso, há 11 anos.

Em 2003, Marco tentou entrar com 13,4 kg de cocaína nos tubos de sua asa delta no aeroporto de Jacarta, capital do país. Flagrado, aproveitou a distração dos policiais e escapou, até ser recapturado duas semanas depois. Traficante de drogas por anos na rota Rio-Amsterdã-Bali, ele nunca havia sido pego.

Na Indonésia, condenados à morte já tiveram a pena alterada para 20 anos de cadeia. Mas o simbolismo do traficante brasileiro que desafiou as autoridades locais enterrou as suas chances.

Mesmo assim, por um período, o governo brasileiro chegou a dar como certo que Marco não seria morto. Era um compromisso firmado informalmente com Susilo Bambang Yudhoyono, presidente da Indonésia de 2004 a 2014. Marco não seria solto, mas tampouco fuzilado.

Quando Joko Widodo assumiu a Presidência, no ano passado, o pacto ruiu.

CHURRASCO NA PRISÃO

Além de não pensar na morte, outra característica de Marco Archer Cardoso Moreira era o bom humor colegial, incompatível com sua situação.

Contava piadas, dizia fazer brincadeiras com os guardas e se vangloriava do churrasco preparado para o diretor do presídio. O otimismo contrastava com a realidade.

Marco era usuário de metanfetamina cristal, droga conhecida na Indonésia como shabu-shabu". Na prisão perdeu quase todos os dentes por falta de tratamento e estava nitidamente envelhecido.

Recentemente, o brasileiro havia relatado arrependimento e disposição para ensinar jovens sobre os efeitos nocivos das drogas.

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