29 julho 2009

Pizzaria Castelo da Corte

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(*) Crônica de Mauro Bomfim (foto)

Pizzaria Castelo da Corte

A absolvição do deputado federal Edmar Moreira pelo Conselho de Ética joga a moralidade em profundezas abissais. A ética se perde no labirinto escuro dos subterrâneos da honra, onde os Minotauros, os Cérberos e as Hidras de Lerna da política brasileira exibem suas figuras disformes, bebendo a última gota do sangue do erário público.

Os fios invisíveis das raríssimas Ariadnes representados pelos políticos do bem dificilmente conduzirão à clareira da restauração da ética, apesar de suas batalhas mitológicas. Nossos Ulisses dos tempos modernos da política, e me permitam incluir Pedro Simon, Fernando Gabeira, Gustavo Fruet, Roberto Freire, Jarbas Vasconcelos, Itamar Franco, continuarão a vaguear pelas sombras do Hades brasiliense, enfrentando águias medonhas e peçonhentas no eterno Cáucaso de tantas ilusões perdidas, amarrados que estão nos rochedos solitários dos que defendem a probidade, a honradez, a compostura e a ética.

Foram nove votos a quatro a favor da absolvição de Edmar Moreira. Os integrantes do Conselho de Ética, com exceção dos quatros votos minoritários, de repente se transformam em comensais da Pizzaria Castelo da Corte, onde um crepitante forno a lenha assa mais uma gigantesca pizza da impunidade.

Foi assim também no caso de outro deputado federal mineiro, o mensaleiro João Magno, que, depois de absolvido no conselho de ética, foi brindado com a dança da “tarantella” pela colega Ângela Guadagnin. Isso também aconteceu desgraçadamente com as absolvições do professor Luizinho, Renan Calheiros, Ney Suassuna, Waldemar Costa Neto, Paulo Rocha, João Paulo Cunha, Pedro Correa, José Mentor, José Janene, Pedro Henry, entre outros, incluindo os que renunciaram como manobra antes do julgamento.

A “omertá” às avessas do Conselho de Ética do Congresso nem pode ser comparada com o código de honra siciliano que proibia dar informações sobre quaisquer crimes, considerados assuntos pessoais das pessoas envolvidas. É pena que não tenhamos aqui uma Operação Mãos Limpas, investigação judicial de grande envergadura em Itália que visava esclarecer casos de corrupção durante a década de 1990, na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano em 1982.

Edmar Moreira é mais um político premiado pela “omertá” tupiniquim, uma espécie de código de silêncio que envolve a defesa de atos secretos, uma cumplicidade promíscua no âmbito de um conselho de ética que faz corar de vergonha qualquer frade de pedra por transformar em atos de pureza angelical as práticas mais nefastas de corrupção e dilapidação do erário público de autoria de senadores e deputados .

Ao contrário daqueles capturados pela Operação Mãos Limpas que levou ao fim a chamada Primeira República Italiana e levou ao suicídio muitos políticos e industriais quando os seus crimes foram descobertos, nossos parlamentares comemoram suas absolvições, felizes e rechonchudos, dando goladas de vinho italiano e rasgando um pedaço de pizza nos dentes.

(*) Mauro Bomfim é advogado especialista em Direito Municipal e Direito Eleitoral e Suplente de Deputado Federal

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