29 janeiro 2009

MARÍLIA RAMOS É A NOVA SUPERINTENDENTE DA FUNDAÇÃO CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



A raul-soarense Marília de Souza Ramos (foto) tomou posse, no último 22 de janeiro, como Superintendente da Fundação Carlos Drummond de Andrade, ligada à Secretaria Municipal de Educação e Cultura da cidade de Itabira. Essa fundação, subordinada diretamente ao gabinete do prefeito, tem status de secretaria municipal.
Itabira é atraente e progressista, conta com mais de 110 mil habitantes, situada na Zona Metalúrgica (a 104 quilômetros de Belo Horizonte), destaca-se pela grande quantidade de minério de ferro explorado pela Cia. Vale do Rio Doce e por oferecer excelente infra-estrutura urbana, além de ser o berço-natal do grande poeta Carlos Drummond de Andrade.
Na oportunidade da indicação dessa ilustre raul-soarense pelo prefeito itabirano, João Izael Querino Coelho, o jornal de oposição “O Trem”, em dezembro do ano passado, editou comentário sobre essa importante ação que busca beneficiar e resgatar a cultura daquele município.


O TREM, edição de dezembro de 2008

“O muito por fazer para pôr Ita na reta da cultura

Está nas costas de Marília Souza Ramos, nova superintendente da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, a pesada responsabilidade de gerir a cultura em Itabira. Pedagoga, assumiu uma pasta fundamental para o desenvolvimento da cidade e terá muito trabalho, pois nesta década a cultura em Itabira, pela esfera governamental, tem sido tratada a socos, pontapés, dedada no olho e pescotapas. Ela encontrará uma estrutura esgarçada, com casas incendiadas (Museu do Tropeiro e Casa do Brás), equipamentos desleixados, como os Caminhos Drummondianos, e déficit de pessoal capacitado. O setor cultural, com poucas exceções, tem sido um cabidão no qual o governo, para encostar, pendura cabos eleitorais, a maioria incapaz de discernir conserto de concerto.
O quadro é tão grave que se pode dizer, sem receio de exagerar: a cultura está toda por fazer. Marília Ramos terá como primeiro passo convencer os que realmente têm poder de decisão no governo municipal sobre a importância de apoiar a cultura, de que cultura é desenvolvimento, de que cultura é fundamental, de que cultura eleva. Portanto, é preciso começar do começo.
O Memorial Drummond é dos principais equipamentos culturais de Itabira. Que memorial a superintendente encontrará? Casa ociosa, desmemoriada, local e paralítica, nem na Internet está. Marília Ramos terá de transformá-lo no maior centro mundial de estudo de obra do poeta. Deve funcionar a mil, fornecer todas as informações acerca da obra drummondiana, instigar as pessoas para a beleza de se aventurar pelos textos do poeta. Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, deve pensar primeiro no memorial ao decidir estudar a obra do itabirano.
Outra peça de grande importância, os Caminhos Drummondianos estão abandonados ao desleixo, em péssimas condições, com placas pichadas, danificadas e ausentes por furto – penosa vergonha. Marília Ramos terá de dialogar à exaustão com os que têm poder de decisão no governo municipal até convencê-los da necessidade de reformar, com urgência, o roteiro poético.
Com muito jeitinho, Marília Ramos terá de conversar com os que têm poder de decisão no governo municipal até provar para eles que a cultura só funcionará se as casas (museu, memorial, biblioteca, Casa de Drummond, Pontal...) forem dirigidas por gente capacitada e com disposição para trabalhar.
Marília Ramos terá de balançar um pêndulo diante do rosto de quem decide as coisas no governo até hipnotizá-los para o cumprimento desta urgente tarefa: é preciso concluir a reforma da incendiada Casa do Brás...
Com tato e engenho, Marília Ramos terá de buzinar nos ouvidos daqueles que têm poder de decisão no governo até acordá-los do sono profundo, despertando-os para a necessidade de que Itabira se relacione com historiadores, jornalistas, antropólogos, cientistas, filósofos e gente do teatro, do cinema, da literatura, das artes plásticas, da música... É preciso fazer parcerias produtivas com gente que têm idéias, que pensa, que puxa para cima, que tem a acrescentar.
Marília Ramos terá de trabalhar para aliviar a barra de Drummond em Itabira. Nesta década, ações equivocadas ou mesmo burras levaram a um esgotamento nervoso da imagem do poeta. Há cansaço de Drummond em Itabira, motivado por essas ações desastradas. Com trabalho bem feito, Marília Ramos terá a responsabilidade de oxigenar a relação Itabira-Drummond. Eliminar o ranço e o enfado dessa relação, torná-la prazerosa.
Patrimônio itabirano, o Festival de Inverno tem sido mutilado. Recentemente, a Prefeitura reduziu-o de quatro para três semanas. Em 2003, até show de pagode vagabundo houve no evento, o que virou motivo de chacota em Belo Horizonte. As edições recentes foram fracas e, como resultado, o festival não tem conseguido ir além do adro da paróquia. Não surpreende, não instiga, não atrai; permanece local, provinciano, débil e oculto. Já passou da hora de Itabira ter um festival bem-sucedido nacionalmente, que divirta, que aglutine, que produza pensamento crítico, que entupa de arte quem tiver na reta (e na curva também)ue entupa de arte quem tiver na reta (e na curva tamb nacionalmente, que divirta, que aglutine, que produza pensamento cr
fun, que gere emprego e renda... Marília Ramos está com a responsabilidade de fazê-lo.
A cultura tem sido relegada em Itabira. Marília Ramos terá de dar murros na mesa de quem realmente decide as coisas no governo para parafusar na cabeça deles esta verdade: a cultura é muito importante. Havendo um trabalho exitoso, com equipe afinada e competente, beneficiará outros setores importantes, afinal, a cultura ajuda na saúde, soma para o desenvolvimento econômico, favorece o turismo, contribui para a educação. Cultura fortalece a cidadania.
Um governo erra muito quando despreza a cultura. Por outro lado, se beneficia demais quando a trata como ação para o desenvolvimento. Basta analisar a trajetória dos grandes políticos brasileiros para comprovar que a cultura é dos principais elementos de consagração. Exemplo nacional: Juscelino Kubitschek. Exemplo local: o prefeito de Itabira de 1977 a 1982, Jairo Magalhães Alves, em cuja gestão foi construído o Centro Cultural. Até hoje, passados cerca de 30 anos, ele é parado na rua e cumprimentado pela importante obra.
Para o bem de Itabira, que Marília Ramos consiga convencer os capitães do governo iniciante, aqueles com real poder decisório, que obras fundamentais nem sempre são feitas com ferragens, manilhas e Caterpillar, mas também com livros, palcos, telas, pincéis, violões, pianos... Principalmente, cultura é aquilo que destrói o atraso."

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