Crônica de Mauro Bomfim
Mais um escândalo em Brasília. Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal. Na mitologia grega, Pandora, "a que tudo dá", "a que possui tudo" foi a primeira mulher, criada por Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã Prometeu em roubar aos céus o segredo do fogo.
Na cornucópia de Arruda, tudo dá. Panetone e dinheiro dentro das meias. Como uma espécie de Papai Noel bondoso distribuindo seu saco de bondades aos eleitores de Brasília. Com direito a presentinho dentro da meia e panetone na mesa natalina.
O Governador José Roberto Arruda acaba de protagonizar um dos espetáculos mais vergonhosas dos últimos 50 anos na capital federal. A cidade idealizada pelo grande estadista mineiro Juscelino, o nosso querido JK, projetada por Niemeyer, traçada em régua e compasso por Lúcio Costa e executada pelas mãos honradas e corajosas do mineiro Israel Pinheiro, ao completar meio século nem sempre é lembrada pela bela catedral com suas torres galácticas . Nem sempre é lembrada pelo ideário de Dom Bosco que a concebeu como o coração do mundo, pátria do evangelho. Ou pelo seu panorama místico e espiritual.
Lamentavelmente, o nome de Brasília explode na mídia sempre envolvida nas operações da Polícia Federal. No exemplo mitológico, a caixa de Pandora só poderia abrigar lembranças sentimentais, em homenagem à filha primogênita de Zeus, o deus do Olimpo, aos nove anos de idade, recebeu de presente de seu pai o colar usado por Prometeu que foi retirado dele ao pagar a sua pena por roubar o fogo dos deuses. Na caixa de Pandora não se poderia guardar bens materiais. Como Pandora ali guardou um valioso colar, este objeto se auto-destruiu, embora a filha de Zeus chorasse eternamente pelo valor sentimental do colar que lhe fora presenteado pelo pai.
Mas a caixa de Pandora brasiliense, ao contrário, abrigou muito dinheiro. Assessores e políticos ligados ao governador Arruda sempre estavam junto a caixa ou passavam no “caixa”. Para guardar o dinheiro, nada de cofre de banco ou mesmo o colchão ou a cueca. O nome Pandora, por si só, desperta curiosidade. E o curioso dessa nova operação da Polícia Federal é a maneira insólita de guardar o dinheiro sujo bombeado nos dutos de empresas favorecidas com licitações e benesses governamentais: dinheiro na meia, a peça do vestuário que as crianças mais adoram à espera da chegada do Papai Noel.
Com seu trenó da corrupção, puxado pelas renas da improbidade, o governador Arruda, cumprindo roteiro natalino, invade a casa de cada cidadão brasileiro que luta duro e transpira a camisa para sobreviver. Muitas vezes de pés descalços, sem meias ou Natal recheado de presentes, ao contrário de parlamentares engordados pela cornucópia do governador do Distrito Federal.
A mitológica Pandora foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Mas o herói Prometeu, antes de ser condenado a ficar 30 mil anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado comido pelo abutre Éton todos os dias,alertou o irmão quanto ao perigo de se aceitar presentes de Zeus. Para quem já revelou segredos do painel do Senado, um outro segredo de Pandora deve se revelar para José Roberto Arruda. Uma quimera onde o governador seja devorado pelo abutre impiedoso da ética e da moralidade e que seus direitos políticos queimem no fogo crepitante do impeachment.
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