15 outubro 2011

Aparelhos celulares podem
representar risco à saúde

Apesar da polêmica, especialistas ainda não comprovaram que radiação
eletromagnética pode ser responsável pelo surgimento de tumores cerebrais

A tecnologia que surgiu para facilitar a vida dos seres humanos e garantir maior bem-estar às pessoas gera polêmica. A Organização Mundial de Saúde (OMS) acredita que aparelhos celulares e antenas de telefonia podem expor os usuários a uma radiação eletromagnética que, segundo alguns estudos, pode ser responsável pelo surgimento de tumores cerebrais. Mas há oncologistas que descartam esta possibilidade, afirmando que não se conseguiu induzir o câncer em laboratório utilizando as mesmas ondas dos aparelhos.
 
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), braço da Organização Mundial de Saúde (OMS), classificou em maio deste ano a radiação eletromagnética como "possivelmente carcinogênica para humanos" incluindo-a no grupo 2B, no mesmo nível de perigo que a emissão de gases vinda de automóveis, o chumbo e o clorofórmio. O objetivo da Agência é alertar as pessoas sobre os riscos da radiação eletromagnética vinda de telefones celulares, ainda que não se tenha estudos concretos sobre o assunto.
 
Só no Brasil, há mais de 200 milhões de linhas de celular habilitadas, segundo balanço do último mês de agosto da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O número revela um dado surpreendente. O celular não só faz parte da vida dos brasileiros, como também há mais aparelhos do que habitantes em todo o país. Para a engenheira pesquisadora sobre campos eletromagnéticos, Adilza Condessa Dode, este é um dado preocupante.
 
A estudiosa, que pesquisa há mais de dez anos o assunto em Belo Horizonte, não só garante que há uma relação entre a radiação emitida por aparelhos e antenas de celular e a incidência de câncer, como classifica a situação como o maior problema ambiental e de saúde pública do Século XXI.
 
Em tese de doutorado defendida em março de 2010, na Universidade Federal de Minas Gerais, a pesquisadora constatou que a Região Centro-Sul da capital mineira possui a maior concentração de antenas e a maior taxa de incidência acumulada de mortes por câncer. A pesquisadora reconhece porém as limitações de seu estudo, que não analisou alimentação, estilo de vida e hereditariedade do câncer nas vítimas considerados.
 
Adilza Condessa Dode recomenda que o celular só seja utilizado em caso de extrema necessidade e que os usuários prefiram o envio de mensagens para evitar a proximidade do aparelho à cabeça. A pesquisadora alerta ainda para o risco para crianças e adolescentes, cujos tecidos ainda estão em formação. “A telefonia celular é uma tecnologia que foi colocada no mercado sem uma pesquisa antes e pode vir a causar uma pandemia de câncer”, afirma.
 
Mas o chefe do serviço de oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Lifecenter, André Murah, garante que não há nenhuma relação entre o câncer e a radiação emitida por aparelhos e antenas celulares. Segundo o médico, embora haja relatos de casos de pessoas que apresentaram câncer cerebral e que sofriam uma grande exposição aos aparelhos, nenhum estudo ainda comprovou essa relação.
 
O oncologista ressalta ainda que não se conseguiu induzir o câncer em laboratório utilizando ondas eletromagnéticas, como as emitidas por celulares. “Para o desenvolvimento de um câncer é preciso uma alteração no DNA, coisa que a radiação emitida pelo celular não é capaz de fazer. Apenas radiações ionizantes como a solar e a nuclear distorcem o DNA, mas a radiação eletromagnética não chega nem a penetrar nosso organismo”.
 
Ainda que não haja estudos conclusivos sobre o desenvolvimento do câncer em consequência da exposição à radiação eletromagnética, a recomendação da chefe da área de Câncer Ocupacional do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Ubirani Otero, é de que se evite o uso excessivo de aparelhos celulares. “Segundo os estudos que defendem a tese, o risco maior é para os usuários pesados, ou seja, aqueles que passam mais de 30 minutos consecutivos por dia falando ao celular. Por isso, partimos do princípio da precaução”.
 
(Hoje em Dia)

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