A política e o troca-troca de partidos
“O político em ação é um criador, um instigador, mas não cria do nada,
nem se move no vazio turvo de seus próprios desejos e sonhos”. (Gramsci)
Depois de ler “O rapto das sabinas” publicado no Viver Toledo, de autoria do Professor Pitágoras (meu cunhado Pita), sobre a disputa política em condições desiguais nos anos 70 em nossa cidade, onde sua preocupação, na época, era ajudar a equilibrar o jogo político, fui motivada a escrever um pouco sobre o clima pré-eleitoral 2011.
O assunto é amplo, poucas pessoas gostam de falar e muito menos escrever, mas teoricamente “o homem é um ser político e social por natureza e a política é a forma mais elevada da comunidade que objetiva o bem nas maiores proporções”.
Fazer o bem sem olhar a quem – dito popular – onde existem dirigentes e dirigidos, governantes e governados (Gramsci, 2005:11), é um desafio para o exercício da arte e da ciência política. É bom distinguir os movimentos orgânicos dos ocasionais e considerar que as opiniões nos grupos não são exatamente iguais e as ideias e opiniões nascem a partir da influência de alguém na forma política.
Daí a necessidade da democracia interna nos partidos, como espaço de debates no sentido de abolir o caciquismo e o pensamento único. Aqui vale lembrar da nossa mestra Rosa Luxemburg: “Liberdade é sempre a liberdade de quem pensa diferente” (2006:15). Daí nasce a consciência política nos partidos, com a fusão das almas e da vontade coletiva para fazer as grandes transformações na sociedade.
Saindo da teoria à prática, ouvimos muitas pessoas, de todos os níveis de escolaridade, dizerem com muito orgulho, que não gostam de política e de partidos; porque o grau de politização/consciência histórico-política é deficiente.
Sem identidade política, votam em qualquer pessoa, lamentavelmente. O mesmo acontece nas Instituições Educacionais, onde deveria acontecer os debates políticos, como espaço de luta sobre os problemas da Educação, tais como eleições diretas e democráticas para as Direções; distinção entre o público e o privado; a crítica sobre as APMFS, Patrulha Escolar, a diversidade, o preconceito e a violência nas Escolas, e tantos outros assuntos importantes para a educação e toda a sociedade.
A indiferença política está presente em muitos setores, o que não contribui para aprimorar a nossa democracia ainda burguesa, racista, machista, xenofóbica, homofóbica, preconceituosa e outras intolerâncias. Sei que concordar com tudo (como a “turma do amém”) é muito mais fácil e cômodo, porque o caminho para a liberdade - de que tanto falou Rosa Luxemburg - é longo, tortuoso e difícil, mas é condição fundamental para qualquer movimento emancipador.
Não é da cultura política do nosso povo votar em partido, cobrar e acompanhar seus políticos(as) eleitos para fiscalizar, legislar, fazer conjunturas e conexões nacionais, internacionais, como se o município fosse uma ilha isolada no oceano. Muitos preferem esperar tudo para ver como fica o quadro no ano eleitoral, para então migrarem e acomodarem em outros partidos que lhe garantam espaços, reeleições ou privilégios; os chamados “políticos paraquedistas”.
Também existem os carreiristas que fazem do mandato uma profissão, sem projeto algum, na condição presencial, apenas e, olhe lá! Nunca vi um Deputado aqui do oeste do Paraná se pronunciar da tribuna da Câmara Federal. E os partidos? Têm nomes bonitos, sugestivos; nem por isso justificam os significados de suas siglas, como democráticos, socialistas ou populares (PSD e PPL são os mais novos) e muitos deles só existem no ano eleitoral.
A corrupção e corruptores é cultural. Ela está em todos os lugares, ela pode estar dentro da sua própria casa e tem história de 500 anos, mas só agora o povo se deu conta disso, graças à autonomia recente da Polícia Federal (PF) e da Controladoria- Geral da União (CGU) e também da imprensa com suas conveniências.
Quero dizer que tenho muito orgulho de ser petista, pela história do PT que é reconhecido internacionalmente. Aqui vale lembrar de Lula: “Se for preciso vamos cortar em nossa própria carne!”.
Quero dizer também ao meu cunhado Pita, que pouca coisa mudou na política paroquiana dos anos 70 até no século XXI. Aqui a disputa continua em condições desiguais. O Legislativo é um apêndice do Executivo; as manobras políticas do nepotismo, do clientelismo, do fundamentalismo, dos currais eleitorais, do voto de cabresto, do voto útil, do voto do favor, da guerra santa eleitoral, ataques à vida particular, da desigualdade de gênero, do uso da máquina administrativa e os interesses pessoais acima dos interesses coletivos. E assim vai nossa política oligárquica e conservadora, com muitas outras contradições.
O compositor Belchior já dizia: “minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. A mais nova prática no enfoque local – da administração do Imperador do PP, sob a guarda dos leões alados do Império babilônico, é a oposição ao Governo Federal do Minha Casa, Minha Vida, dos Restaurantes e Farmácias Populares e de milhões de outros recursos recebidos; mas, lá em Brasília seu partido é também base de sustentação do mesmo Governo Federal. E, assim, vamos morrer sem ver tudo!
Por tudo que pensei e escrevi, espero, como todo brasileiro(a), que seja aprovada uma Reforma Política decente, no sentido de abolir tantos vícios terríveis e centenários, da política conservadora. A sociedade não suporta mais os governos autoritários, antidemocráticos, como se vê nas lutas internacionais anticapitalistas e antiprivatistas.
Radicalizar a democracia é preciso em todas as Instituições e segmentos de todo o mundo, em defesa da vida, da justiça e da paz.
Toledo, outubro de 2011.
Joana Darc Faria de Souza e Silva é professora de História e militante do PT desde 1989
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