20 setembro 2014

O que leva o eleitor brasileiro a votar em branco ou nulo?

Votos brancos e nulos vão muito além da falta de opção

Desalento. A percepção é de que o próprio voto vale pouco. O sentimento é de impotência diante do “mundo da política”, entendido como predatório e incapaz de transformações que beneficiem a sociedade. Nesta toada, um batalhão de eleitores se prepara para não comparecer à sua seção, deixar a sua marca em branco ou simplesmente anular o voto no próximo 5 de outubro. Se este contingente vai aumentar, só as urnas dirão, mas o histórico das últimas eleições pode ser um indicativo do próximo cenário.

Entre 2002 e 2010, os votos nulos e brancos e as abstenções cresceram em números absolutos não apenas para deputado estadual e federal, mas também para o governo de Minas e, em âmbito nacional, para a Presidência da República. A decisão de não participar da política pode sinalizar muitas coisas, como explica o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Ranulfo. “O voto nulo e branco pode informar que o eleitor está alheio ao processo, não quer saber, nem se envolver. Pode também ser consequência de o eleitor não ter encontrado nenhuma opção que lhe agrade entre os candidatos colocados. Pode ainda ser um protesto consciente, como nos tempos da cédula, em que rabiscavam e escreviam mensagens”, avalia.

A secretária Ana Carolina Sales Peixoto, de 23 anos, mais uma vez irá comparecer à sua seção eleitoral para anular o voto. O motivo de sua alienação: não acredita nos políticos. “Não apenas eu, mas toda a minha família”, afirma convicta a testemunha de Jeová. A decepção com políticos e a certeza de que não farão o que é necessário é a motivação. “Governantes humanos não vão melhorar a situação precária da educação e da saúde. É perda de tempo”, afirma ela, que desde os 16 anos anula sistematicamente a sua participação nas eleições.

O sentimento é partilhado por Caio Mateus Martins Marinho, de 17 anos, que, apesar de ter tirado o título, vai votar em branco em sua estreia. “Não gosto de política. É tudo mentira. Não acredito em nenhum deles. Não voto para nada”, diz. Já Patrícia Brasileiro de Oliveira, de 37 anos, não quer se sentir responsável por ter contribuído com a eleição de nenhum dos candidatos. “Se vier algo muito ruim e pior ainda do que já está aí saberei que não é culpa minha”, argumenta.

Pressão Enquanto esses eleitores do voto nulo e branco, em maior ou menor intensidade, têm uma percepção negativa da política, em Rio Pardo de Minas, no Norte de Minas, o voto nulo e branco será expressão de um movimento político, que procura transformar a realidade de “abandono” do município. “Foram tantas eleições e promessas de asfaltamento dos 34 quilômetros da estrada que liga a cidade a Montes Claros que desta vez resolvemos dar um basta”, afirma Eduardo Dias da Rocha, mentor do movimento gestado há um mês, que foi batizado de Sem asfalto, sem voto. Nessas quatro semanas, o protesto se alastrou. Já são 3.770 membros do grupo no Facebook, carros adesivados e uma mania que ameaça se espalhar para a cidade vizinha de Taiobeiras, onde é gestado o grupo Sem barragem, sem voto. Ali, a obra inacabada deixa o município sem água no período de seca. Ainda incipiente, na Zona da Mata, nas cidades de Paula Cândido e Divinésia, o voto nulo é também argumento em página criada no Facebook para o protesto contra a falta de pavimentação de estradas.

O “nulo e branco” em Rio Pardo de Minas não será indiscriminado, segundo Eduardo Rocha. “O movimento é dirigido ao voto para deputado estadual e deputado federal”, explica ele. Nas eleições de 2010, os mais votados na cidade para a Assembleia foram a ex-deputada estadual Ana Maria (PSDB) e, para a Câmara dos Deputados, o ex-deputado federal Márcio Reinaldo (PP). Nenhum dos dois está no exercício do mandato. “São sempre falsas promessas. A cidade tem 142 anos e não tem mercado, não tem rodoviária e a maioria das ruas da parte alta não são asfaltadas. Estamos protestando contra os deputados e vamos demonstrar nossa força votando nulo ou branco”, diz Eduardo. (Bertha Maakaroun)

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