Candidatos padres ficam sem apoio nas urnas
Somente militância leiga tem aval da Igreja para se candidatar. Para analistas, presença de religiosos na política é ruim para a democracia e campanha em cultos deveria ser proibida
Oficialmente, a Igreja Católica não manifesta apoio a candidato ou partido. Somente sua militância leiga tem sinal verde da cúpula para entrar na vida pública. “Somos contrários à participação de sacerdotes na política partidária. É assim no mundo inteiro”, explica o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana, na Região Central de Minas.
Apesar da marcha dos evangélicos, o coordenador do núcleo político da CNBB, padre Ernane Pinheiro, não se mostra preocupado com o fenômeno. “ A gente faz questão de não seguir o exemplo dos protestantes”, declarou.
Diferentemente do que pensa o comando da Igreja, o padre e deputado Luiz Couto (PT-PB) entende que a CNBB deveria rever seus conceitos e passar a estimular a entrada de sacerdotes na política. “Nós temos voto segmentado, mas, na realidade, representamos todo o povo brasileiro. Acho muito positiva a entrada de religiosos na Câmara dos Deputados. A Igreja Católica poderia apoiar isso”, argumentou.
Líder da frente parlamentar evangélica, o deputado federal João Campos (PSDB-GO) considera ainda modesta a representação na Casa. Segundo Campos, apesar de terem 51 cadeiras, os evangélicos precisam se mobilizar mais para defender bandeiras como a diminuição da carga tributária, combate à corrupção e a distribuição de riquezas. “Precisamos avançar muito mais. Nossa representação ainda está muito aquém se comparado ao número de protestantes no país. Existe uma projeção que mostra que somos quase um terço da população”, avaliou.
Sem fazer qualquer distinção de denominação, o cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio de Janeiro, afirma ser danoso para a democracia a entrada de religiosos na política. Autor dos estudos Religião e sociedade em capitais brasileiras (2006) e Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil (2003), Jacob entende que a partidarização da religião pode afetar o estado democrático de direito.
“No limite nós podemos nos transformar no estado teocrático do Irã. Os grandes pensadores do século 18 fizeram um grande esforço para separar a religião da política. Essa aproximação é ruim para os dois lados. Quem tem arma, no caso dos religiosos é a Bíblia, não pode se meter na política partidária”, considera.
Para combater esse crescimento, o especialista defende um maior rigor do Ministério Público Eleitoral. De acordo com Jacob, os religiosos, principalmente os evangélicos, que têm maior representação, deveriam ser proibidos de pedir votos durante os cultos. “Isso é uma concorrência desleal. Como as congregações ganham isenção fiscal dos governos, as igrejas não podem ser usadas para fazer campanha eleitoral.”
Na mesma linha, o filósofo e analista político Denis Rosenfield, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, se diz contrário a qualquer manifestação religiosa na política. Apesar da modesta participação de sacerdotes na Câmara dos Deputados, o especialista alerta que as lideranças católicas atuam fortemente junto a movimentos sociais. “Recentemente, várias entidades ligadas à Igreja Católica lançaram um plebiscito para limitar a propriedade rural no país. Os católicos influenciam diretamente na política nacional, apesar de ter poucos sacerdotes no Congresso.” Como exemplo de militância política, Rosenfield cita uma pesquisa que mostra que os católicos detêm praticamente a mesma quantidade de concessões de rádio e TV que os evangélicos.
(FONTE: Portal Uai)
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