02 abril 2011

Nova Serrana é a que mais cresceu
em Minas Gerais na última década


Nova Serrana – As sirenes das fábricas de calçados soam às 17h, anunciando o fim de mais um dia de trabalho. Aos poucos, a BR-262, que divide ao meio a cidade de Nova Serrana, na Região Centro-Oeste de Minas, a 133 quilômetros de Belo Horizonte, é tomada por um mar de gente, a pé, de bicicleta, carro, moto e ônibus. A cena é o retrato fiel do mapa demográfico do município. Atraída, principalmente, pela oferta de trabalho na indústria calçadista, a população local foi a que mais cresceu no estado entre 2000 e 2010: 7% ao ano, passando de 37,5 mil para 73,7 mil, um aumento de 96,5%.

O recorte demográfico de Minas, feito com base no Censo 2010, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que, enquanto a taxa de crescimento anual no estado foi de 0,91%, na última década, abaixo do índice de 1,5% registrado nos anos anteriores, a população de Nova Serra praticamente dobrou.

Os reflexos negativos também cresceram. Embora atestem que o poder público luta para minimizar os impactos, moradores se queixam da violência e da falta de estrutura, principalmente do trânsito e setores como saúde e saneamento básico. Nascida em São Francisco, no Norte de Minas, a universitária Cristiane Ribeiro, de 25 anos, se mudou para Nova Serrana em 2005, onde estuda contabilidade, trabalha na área e mora com uma irmã, no Bairro Laranjeiras. “O que mais tem me incomodado é a falta de segurança. Já entraram na minha casa duas vezes e roubaram muita coisa. Mas eu gosto de morar aqui”, disse.

Cristiane atua no escritório de contabilidade aberto há 25 anos por Vital de Fátima da Silva, de 55. Ele nasceu em Perdigão e ficou até os 29 anos como contador em uma siderúrgica de Divinópolis, municípios do Centro-Oeste de Minas. Hoje, mora e trabalha na Rua Coronel Martinho Ferreira do Amaral, no Centro, uma das áreas de Nova Serrana em que o metro quadrado construído é mais valorizado. “As vias da parte central são estreitas e não estão preparadas para tanto volume de carro. A média é de um veículo para dois habitantes”, disse o contador.

Vanduir Lopes Cardoso, de 29, de Capelinha, Vale do Jequitinhonha, chegou a Nova Serrana em 2000 para trabalhar numa fábrica de calçados. Hoje, sua fonte de renda é o táxi. “Mexer com passageiro ficou mais rentável. O problema são engarrafamentos nos horários de pico”, queixa-se. “Tirando a violência, o resto está excelente.”

Outro drama apontado por Vital nas principais vias são os alagamentos em dias de chuva. “A produção de lixo também é uma coisa absurda”, lamenta o contador, ressaltando que, “num balanço geral, é um lugar muito bom de se viver.”

A contadora Carla Soares Silva, de 24, outra funcionária do escritório de Vital, prefere continuar morando em Divinópolis, com os pais. “O custo de vida é muito alto, como o valor do aluguel, por causa da grande procura. Também tenho medo da violência, pois é comum as pessoas serem assaltadas em dia de pagamento”, disse.

Após morar 40 anos no Bairro Lagoa, na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, o aposentado José Pereira Martins, de 84, decidiu se mudar com a família para Nova Serrana, onde chegou em 2006. “Vim em busca de sossego, mas aqui está ficando complicado. Com tanto tempo morando na capital, fui ser atropelado por uma moto em Nova Serrana”, contou. Segundo ele, o principal reflexo negativo do crescimento da população é na rede pública de saúde. “Há postos de saúde em quase todos os bairros, mas estão quase sempre lotados. Tento fazer uma cirurgia de hérnia desde 2008, mas ainda não consegui”, disse.

O ajudante de pedreiro Luís Fernando da Silva, de 24, nasceu em Sete Lagoas, na Região Central. Ele conheceu e se casou em Nova Serrana com a pespontadeira Milaine da Silva, de 25, natural de Luz, na Região Centro-Oeste. O casal também se queixa de sobrecarga no sistema de saúde público. “Custamos a conseguir atendimento médico para nossa filha (Natália, de 1 ano e 4 meses), que está com sinusite”, afirmou Luís Fernando.
(FONTE: Estado de Minas)

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