28 abril 2011

Presa quadrilha que faturou
R$ 2 bilhões com roubo de caminhões

Delegado de Polícia de Abre Campo, Carlos Roberto Souza - foto - ajuda na
prisão de quadrilha que faturou R$ 2 bilhões com roubo de caminhões na região

Uma quadrilha de falsificação de documentos para caminhões roubados foi presa nesta semana após sete meses de investigação. A operação que contou com 120 policiais bem armados. Um pelotão de 20 delegados comandou a ação.
Era madrugada quando o comboio partiu para Volta Redonda e Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, e Rio Preto e Santa Bárbara do Monte Verde, em Minas Gerais.

Segun
do a polícia, a quadrilha agia principalmente no cruzamento das BR-262, que liga Belo Horizonte a Vitória, com a BR-116, também conhecida como Rio-Bahia. Boa parte da frota de caminhões que circula pelo país passa por essa região. São trechos cheios de subidas e muitas curvas, que fazem o motorista diminuir a velocidade.

Dois rapazes que faziam parte do esquema foram presos no final do ano passado. No depoimento, eles dizem quanto ganhavam com o roubo de cada caminhão. “Ganhava mais ou menos R$ 500”, disse um dos rapazes, que revela ainda quem encomendava os caminhões roubados.

"O cabeça forte é o Ronaldo. Zé Luiz tinha contato com o Ronaldo, e o Ronaldo passava as coordenadas para o Zé Luiz de qual caminhão queria", disse.
Ronaldo José Fernandes é vereador de Pedra Bonita, cidade do interior de Minas. Ele tinha dois comparsas: José Carlos de Oliveira, que já foi candidato a prefeito na cidade, e José Luiz, que fazia a ponte entre os políticos e os assaltantes. Os três foram presos em dezembro do ano passado.

Falsificação de documentos
De acordo com a polícia, a quadrilha também estava infiltrada em Ciretrans, que são as subdivisões dos departamentos de trânsito. Os criminosos conseguiam com facilidade falsificar os documentos e emplacar os veículos.

Muitos caminhões eram supostamente licenciados em Rio Preto, a cidade mineira que fica na divisa com o Rio de Janeiro. No município, com pouco mais de cinco mil habitantes, quase não se vê caminhões rodando pelas ruas, mas na cidade estão registrados quase mil.
Muitos dos veículos supostamente emplacados em Rio Preto pertenceriam a uma pessoa que mora na Rua São José, número 50. O endereço nem a suposta proprietária foram encontrados.

O Fantástico também foi até Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo. No estado, os licenciamentos e transferências não precisam ser feitos em Ciretrans. O processo pode ser conduzido por despachantes como um casal que, segundo a polícia, também fazia parte do esquema. Eles transferiam para a cidade caminhões sem qualquer vistoria.

O homem acabou revelando que usava o endereço de outras pessoas para conseguir o licenciamento. O pedreiro Antônio Guimarães, que nunca imaginou ser o dono de um caminhão, teve o endereço usado pelos criminosos.

Repórter: O senhor sabia que no Detran consta que quatro caminhões foram registrados com esse endereço?
Pedreiro Antônio Guimarães: Não. Não sei, não.
Repórter: Qual carro que o senhor tem?
Pedreiro Antônio Guimarães: É fusca, um fusquinha antigo.

Leilões forjados

A quadrilha, para justificar a procedência do veículo, informava que os carros haviam sido adquiridos em leilões realizados pela Aeronáutica. Esses leilões foram forjados. Os militares da Força Aérea analisaram o material encaminhado pela polícia e encontraram erros grosseiros.

“São cerca de dez caminhões por ano que nós colocamos no leilão para venda, num processo que é metódico, extremamente organizado e público", afirmou o coronel Henry Munhoz, porta-voz da Aeronáutica.

Os chassis e a data do leilão foram publicados no Diário Oficial na seção quatro – seção quatro, no Diário Oficial, não existe.

Prisão do chefe da quadrilha
Na última quinta-feira (14), a polícia fechou o cerco contra o chefe da quadrilha, André Lanis, em Volta Redonda. Ele é quem, de acordo com as investigações, comprava documentos falsos e revendia os caminhões roubados.

“O André é o cabeça da organização. Ele é quem estabelecia contatos em todas as Ciretrans que até agora nós levantamos”.

Os policiais agiram rápido e acabaram invadindo a casa. Dentro, sinais de uma vida confortável e cheia de luxo. André não reagiu à ação policial. O homem acusado de ser o chefe do esquema é dono de um escritório de despachantes e de algumas lojas de revenda de carros. Centenas de documentos, computadores e 24 carros foram apreendidos.

Dez pessoas foram presas na quinta-feira. Ao todo, já são 23 presos. Em vários documentos falsos apreendidos pelos policiais em Rio Preto, aparecem a assinatura do delegado Alexandre Figueira pereira autorizando o licenciamento dos caminhões roubados.

Com uma microcâmera, o Fantástico tentou negociar com o delegado o licenciamento de um carro, mesmo sem endereço fixo na cidade, o que não é permitido por lei. O delegado indica um despachante amigo dele. “Pede até orientação com ele lá, que arruma pra você até um endereço lá em Santa Bárbara”, disse o delegado.

Segundo a polícia, os criminosos faturaram com o esquema R$ 2 bilhões. Eles vão responder por roubo, adulteração de documentos, estelionato, corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro

“Além de responder por crime na Justiça comum, responderão com certeza por crime praticado contra a administração pública militar e federal”, afirmou o delegado Carlos Roberto Souza.
(Blog Willian Chaves)

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