Famílias
procuram vagas gratuitas para
tratar os filhos viciados em drogas
tratar os filhos viciados em drogas
Existem 350
leitos em 12 entidades para atender os 50 municípios da região
O filho da dona de casa Joana Darc Cruz Oliveira, de 34 anos, da cidade de Perdigão, no Centro-Oeste mineiro, conheceu o crack quanto tinha apenas 12 anos. Aos 17, ele apresenta uma extensa ficha criminal: são 40 passagens pela polícia, todas relacionadas a furtos, roubos e uso de drogas. Agora, ela tenta uma vaga de internação para que ele seja tratado, mas não consegue. A história dela é similar a várias outras da região. Mães e pais procuram, mas não encontram leitos para que os filhos sejam ajudados a sair do vício.
Em todo o Centro-Oeste, são 12 instituições voltadas para a recuperação de dependentes químicos que juntas oferecem cerca de 350 vagas para a população carente. Esse é o número de leitos para atender as 50 cidades da região. Para Joana Darc, só é possível encaminhar o filho para um tratamento gratuito. Em alguns centros terapêuticos particulares, o valor é de um salário mínimo mensal, podendo ultrapassar R$ 2 mil por mês. No estado, de acordo com a Secretaria de Estado de Defesa Social, existem hoje 30 entidades terapêuticas conveniadas que oferecem 4 mil vagas sociais.
Na cidade de Joana, com cerca de 8 mil habitantes, o Conselho Tutelar atende hoje quase 600 adolescentes, a maioria viciada em crack. “Aqui em Perdigão está um absurdo, principalmente entre os mais jovens. Não achamos vagas em nenhum lugar para internar meu filho. Ele rouba as pessoas na rua, rouba dentro de casa, tudo para comprar essas pedras. Para manter o pouco que temos, tive que guardar as coisas de mais valor no meu quarto e trancar a porta. Precisamos esconder até o botijão de gás”, contou a mãe. Ela diz ainda que o filho abandonou a escola e já ficou quatro dias desaparecido. “Não é um menino agressivo, mas quando começa a sentir falta de droga ele começa a ficar nervoso. Não sei como ajudar. Precisamos colocá-lo numa clínica, é a única solução que vejo e ele concorda com isso. Mas não achamos vaga e eu não posso pagar pelo tratamento”, apela.
A conselheira tutelar Edna Aparecida Jesuína Simões informou que quase todos os adolescentes atendidos pelo órgão têm envolvimento com as drogas. Ela acredita que falta apoio do Estado no combate ao uso de entorpecentes. “Não temos facilidade em conseguir vagas sociais para dependentes químicos, quando conseguimos uma, ela pode demorar mais de um mês para ser liberada”, afirmou. O órgão faz entre 90 e 120 atendimentos por mês e a maioria por causa de drogas.
Vagas sociais
Um dos centros terapêuticos que atende a região é a Casa Dia, que há mais de 11 anos oferece tratamento aos usuários de drogas de Perdigão. Das 35 vagas disponíveis na instituição, oito são sociais. O coordenador Rui Faria Campos disse que o número de vagas que cada entidade oferece à população carente depende das doações e das mensalidades pagas pelos demais internos. “Fazemos hoje o trabalho que deveria ser feito pelo governo e não recebemos nenhum incentivo para isso. Cada interno custa para a instituição cerca de um salário mínimo por mês”, afirmou.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Saúde informou que na rede de hospitais especializados psiquiátricos existem cerca de 1.350 leitos de tratamento agudo, e mais 1 mil leitos de tratamento crônico que podem ser destinados a dependentes químicos. O subsecretário estadual de Políticas sobre Drogas, Cloves Benevides, informou que está sendo feito um censo para saber qual a demanda exata no estado para as vagas oferecidas. Ele concorda que o número é pequeno se comparado à demanda, mas “é preciso conhecer com mais clareza a dimensão da rede existente hoje”. “Estamos trabalhando nesse mapeamento”, disse, na expectativa que o trabalho fique pronto em julho.
(Estaminas)
Nenhum comentário:
Postar um comentário