07 março 2012

Dia Internacional da Mulher

“Nossos passos vêm de longe...”
(Sueli Carneiro)

            Já foi dito e consagrado que o 8 de março relembra as operárias têxteis de Nova York, mas poucas pessoas reconhecem que as mulheres russas lutavam por paz, pão e terra, inaugurando a revolução de 1917, além de outras tantas batalhas das mulheres de todo o mundo em defesa da dignidade dos povos.
            Hoje, a Marcha Mundial das Mulheres internacionalizada no ano de 2000, construíram uma pauta comum de combate a pobreza e a violência sexista, decorrentes das desigualdades advindas do sistema perverso capitalista.
            O 8 de março serve também para relembrar inúmeras mulheres que desafiaram o poder e a sociedade, organizando, transformando e mostrando que um outro planeta é possível, sem exploração, sem discriminação, mais justo e sustentável, com equidade de gênero/etnia e classe.
            Aqui, lembramos de Bartira, Catarina Paraguaçu, Luiza Mahin, Rainha Nzinga, Aqualtune, Dandara, Rosa Luxemburgo, Clara Zettin, Clara Scharf, Margarida Alves, Lélia Gonzalez, Maria da Penha, e tantas outras militantes das causas populares.
            Desta vez, quero destacar neste 8 de março o papel da mulher negra e da mulher indígena na formação histórica e cultural da sociedade brasileira, ocultadas pela História oficial branca, masculina e eurocêntrica, muitas vezes preconceituoso e excludente.
            São elas (negras e indígenas) nos primeiros, séculos do Brasil, são elas abolindo o Império, escravizadas, supostamente libertas, mas sempre exploradas, oprimidas e excluídas. No dizer de Angela Gillian: “No Brasil e na América Latina, a violação colonial perpetrada pelos senhores brancos, contra as mulheres negras e indígenas e a miscigenação daí resultante, está na origem do mito da democracia racial e de todas as construções de nossa identidade nacional. A desigualdade entre homens e mulheres é erotizada, a violência sexual contra as mulheres negras foi convertida em um romance”. Digo que tratar a questão como folclore é muito cômodo e mais fácil.
            Assim as discussões sobre a temática, tem grandes proporções, Conferências Internacionais, debates intensos, Declarações Oficiais da América Latina, Caribe, EUA e outros países, sobre as questões de gênero e seus desdobramentos.
            Infelizmente, sabemos que a Pobreza tem sexo e cor e que a luta das mulheres negras tem o viés de gênero, etnia e classe social. Portanto enegrecer o feminismo, significa colocar na agenda do movimento de mulheres o peso que os problemas raciais, traz em suas especificidades, como por exemplo, as políticas públicas de saúde da população negra. As negras são ainda as que mais morrem por eclampsia e abortos mal feitos além do câncer uterino, diabetes, hipertensão, etc.
            Embora as conquistas efetivadas, ao longo de décadas de lutas, o fosso da desigualdade ainda é grande, em virtude da História de exclusão de 500 anos. Ainda hoje, as mulheres negras e indígenas encontram-se na pior posição, com menores taxas de escolaridade, emprego, renda, saúde, expectativa de vida. E a maioria se encontra em regiões de violência urbana no país.
            Mas elas resistiram e resistem e hoje contam com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) com status de Ministério, para coordenar ações nas três esferas de governo – federal, estadual e municipal -, para a superação da discriminação racial e do racismo, por um Brasil unido na diversidade, e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM).
            O 8 de março lembra também que mulheres negras e indígenas contribuíram desde o Quilombo de Palmares, na construção de uma sociedade justa e mais humana.
            Por isso é que seus passos vêm de longe, resistindo a teoria do branqueamento, nas irmandades, nos candomblés, nos terreiros, nas ruas como quituteiras, nas Conferências Internacionais, nos fóruns de debates e agendas de diversas atividades no país e no exterior.
            O 8 de março é mais um dia de luta para marcar a resistência e as conquistas de todas as mulheres e homens por um mundo de justiça e paz.
“Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto.”

                                                                               Toledo, 8 de março de 2012.

Profª Joana Darc Faria de Souza e Silva
professora de História e especialista em Ensino da Cultura, Artes e História afro-
brasileira e indígena na educação básica.

Um comentário:

Anônimo disse...

JOANA DARC, TENHO A MAIOR SAUDADE QUANDO VOCÊ ERA MINHA PROFESSORA DE HISTÓRIA NO CERP.MINHA TURMA ERA EU, HOMERO, VINICIUS, ANTONIO ROBERTO NORONHA, JUNINHO QUE FALECEU MUITO CÊDO E OUTROS. EU GOSTAVA MUITO DE VOCÊ. FELICIDADES. UM ABRAÇO. AFONSO.