15 março 2012

Educação em Minas: greve ou feriadão?

A imagem do professor ficou arranhada na quarta-feira (14). Nem bem os dias de aula perdidos foram repostos e eles começaram uma nova greve. No ano passado, a qualidade do ensino público em Minas Gerais ficou bastante comprometida com o excesso de dias parados, que não são repostos de maneira digna. Alguns dias são no sábado, os alunos perdem o ritmo e aqueles que se preparam para o vestibular ou para as provas do Enem têm de buscar outra opção que não a rede de ensino público, que deveria dar o exemplo.

Não se questiona aqui o salário do professor, que é baixo. Esse piso nacional para os professores, de R$ 1.451,00 para uma carga horária de 40 horas semanais, é muito pequeno. A sociedade reconhece e a história dos países desenvolvidos já demonstrou que o investimento na educação, a começar pela remuneração dos mestres, faz a diferença. Um professor bem remunerado, incentivado, feliz dentro da sala de aula, com certeza vai conseguir transmitir a seus alunos os conhecimentos necessários que um estudante deve ter no ensino fundamental. Pode fazer a diferença na medida em que esse aluno não terá traumas em determinadas disciplinas lecionadas por um professor mal-humorado. Essa desagradável experiência emocional pode marcar uma criança por toda uma vida. Esse prejuízo é enorme para uma nação.

Da mesma forma, exige-se dos professores e das suas lideranças mais responsabilidade no trato com a greve. A paralisação das aulas não pode se transformar em meio de vida. Por qualquer coisa, as salas ficam vazias e ninguém é responsabilizado. O grevista vai para a praia e a sala de aula fica vazia. As mães ficam sem condições de deixar a criança em outro local para poder trabalhar. E os alunos, os maiores prejudicados, se desmotivam.

A greve é legítima, mas é a última opção em uma negociação. Não a primeira, com dessa de ontem, que pretende se estender até sexta-feira. É um feriadão nacional para os professores, de quarta a domingo.

O piso nacional é lei e o gestor que não cumprir, que não fizer o seu dever de casa, tem de prestar contas com a Justiça e com o Tribunal de Contas. Não tem sentido uma greve nacional para exigir o pagamento do mínimo em estados e municípios que já remuneram o professor até acima do piso, que, repetimos, é muito baixo para um país que acaba de ultrapassar o Reino Unido e ocupa hoje o posto de sexta economia do mundo.

Em Belo Horizonte, a maior adesão ontem foi dos professores municipais. O sindicato da categoria afirma que a greve reivindica o piso salarial de R$ 1.451. Ora, em BH, o salário mínimo para professor é de R$ 1.676,03 para uma jornada semanal de 22 horas e 30 minutos. Um pouco mais que o piso nacional.

A pergunta que não quer calar é: se a Prefeitura de Belo Horizonte paga R$ 1.676,03 por 22 horas por que os professores estão fazendo greve para ganhar R$ 1.451 por 40 horas semanais? Querem reduzir o salário? Como se vê, essa greve não parece ser séria. Tem cara de feriadão.
(Hoje em Dia)

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