10 maio 2010

Costuras de eleição

"Nanicos" aproveitam
brecha para lançar candidato

Cálculo dos partidos para composição de chapa supera em muito as cadeiras no Legislativo e abre brecha para legendas menores transformarem a disputa eleitoral em balcão de negócios

Se todos os partidos políticos conquistarem as cadeiras que prometem nas eleições proporcionais, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais precisaria ter não mais 77, mas pelo menos 144 cadeiras. A bancada federal mineira teria de saltar dos atuais 53 deputados federais para no mínimo 100. O inchaço das projeções se explica neste momento em que as legendas se cacifam para negociar as coligações. Os acertos se assentam sobre demonstrações matemáticas. Quanto menor a legenda, esse processo mais se aproxima de uma lógica meramente contábil, de um balcão de negócios, que passa longe de qualquer aspiração ideológica ou programática.

Explorando bem as brechas do sistema proporcional de lista aberta, os chamados partidos nanicos adquiriram expertise não em determinados temas do debate. Mas antes, em construir chapas para conquistar representação parlamentar muito além de sua inserção social.

Acéfalas, mas com corpo robusto, as chapas de legendas nanicas apresentam a mesma característica para o recrutamento: no vestibular da seleção, há linha de corte para o desempenho eleitoral dos candidatos: nenhum com votação menor ou superior a uma faixa variável de 3 mil a 20 mil votos. Se deputados há, que sejam expulsos. Foi assim com o deputado estadual Juninho Araújo, convidado a deixar o PRTB no ano passado. "Expulsamos sim. Não queremos chapa cabeçuda", admite Jorge Periquito, presidente estadual do PRTB, referindo-se ao fato de o deputado ter uma base eleitoral maior do que aquela desejada para atrair candidatos dentro da faixa de votos. Entre tantos nomes, qualquer um pode ganhar a loteria das urnas com um mínimo próximo a 20 mil votos para a Assembleia e 35 mil para a Câmara dos Deputados. Em chapas de grandes partidos, o mínimo necessário para um candidato se eleger varia entre cerca de 55 mil e 60 mil para deputado estadual e 90 mil para deputado federal.

É assim que um grupo de nove pequenos partidos, uma salada de legendas que pouco ou nada representa, além de um amontoado de interesses particulares – PTN, PTdoB, PRP, PTC, PRTB, PHS, PSL, PMN e PSC – todas com “pequenos donos” , sonha com 29 vagas no plenário estadual e 15 na bancada federal – respectivamente 39% e 28% das cadeiras. Quando acertam coligações, só o fazem entre pequenos e depois de terem construído a própria chapa, nos moldes da gestão eficiente.

"A gente se senta à mesa, um olha a lista de candidatos do outro. Os partidos vão nas regiões dos candidatos e investigam o potencial eleitoral de cada um. É a luta de sempre. Toda eleição tem", ensina o deputado federal Carlos William (PTC), em seu segundo mandato de deputado federal, eleito com apenas 35.681 votos, menor desempenho do estado. Enquanto o chapão do PSDB,PP,DEM,PL (hoje PR) e PAN elegeu 22 federais, o menos votado, Vítor Penido (DEM) com 77.079 votos, a coligação PT,PMDB e PCdoB conquistou 17 cadeiras, a última delas, de Leonardo Monteiro (PT), que obteve 77.107 votos.

"Da forma como criamos a nossa chapa, devemos fazer no mínimo – isso se os nossos candidatos ficarem em casa de pijama – , cinco estaduais. Se saírem para pedir voto, como já estão fazendo, nossa bancada será de oito", promete Agostinho Neto, presidente do PSL.
(Reportagem de Bertha Maakaroun)

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