Nova técnica usa
o hálito para
diagnosticar doenças do coração
Quanto maior o
nível de acetona, mais elevado é o estágio do problema
Uma
técnica desenvolvida por pesquisadores do Instituto do Coração (InCor), do
Hospital das Clínicas, faz o diagnóstico de insuficiência cardíaca de forma
rápida, precisa e mais barata, por meio, apenas, do sopro. O exame é feito com
um pequeno aparelho que mede o nível de acetona (substância de cheiro forte,
produzida durante os processo de metabolismo do corpo) presente no ar expelido
pelo paciente. Quanto maior o nível, mais elevado é o estágio da doença.
A
nova técnica pretende facilitar o diagnóstico principalmente em postos de
atendimento que não são especializados em doenças do coração. Atualmente, a
constatação da insuficiência é feita por um exame de sangue, que verifica a
presença de uma substância chamada bnt. “O novo exame é tão preciso quanto o
atual, pois observamos que o nível da acetona no ar exalado cresce de maneira
proporcional ao nível do biomarcador bnt no sangue”, ressaltou o médico do
InCor Marcondes Bacal.
Além
disso, o novo exame custará cerca de 30% do valor cobrado na análise do sangue.
“O exame de sangue custa mais de R$ 100. A troca vai reduzir custo para o pacientes
e até para o SUS [Sistema Único de Saúde]”, destaca o médico.
Segundo
Fernando Bacal, a insuficiência cardíaca é a etapa final de uma série de
doenças que atingem o coração, como miocardites, doença de chagas, infartos. O
órgão fica debilitado e passa a bombear o sangue com menos força. Isso causa
retenção de líquidos, inchaços, acumulo de água no pulmão e principalmente
falta de ar e cansaço excessivo aos esforços. “Cerca de 10% dos pacientes que
atingem esse nível da doença necessitam de transplante e aproximadamente 50%
correm o risco de morrer.”
O
médico disse que o estudo dessa nova técnica surgiu quando se observou que os
pacientes em fase avançada da doença exalavam um forte cheiro pela boca ao
falar. “O hálito deles tem um odor peculiar, que chamou a atenção. A pesquisa
investigou qual era esse elemento [que causava o cheiro] e identificou a
acetona como um novo biomarcador da doença, capaz de confirmar a insuficiência
cardíaca”, explicou o médico.
“A
acetona não é produzida no dia a dia. Quando acontece é porque há alguma
agressão. O corpo a produz para se sustentar e fazer energia de alguma
maneira”, explica a também cardiologista do InCor, Fabiana Marcondes Braga,
autora de uma tese de doutorado sobre acetona.
O
médico, porém, destaca que a análise do sangue exige uma estrutura para ser
feita. “No novo aparelho, atualmente pegamos o ar exalado, condensamos com um
processo de resfriamento, levamos o líquido para o laboratório e o resultado
sai em horas. Mas,
com algumas evoluções, vamos conseguir com que o resultado saia imediatamente,
no próprio aparelho. Isso vai possibilitar um encaminhamento mais imediato para
o tratamento especializado.”
O
estudo tem a parceria do Instituto de Química da Universidade de São Paulo
(USP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Segundo Marcondes Bacal, o próximo passo é levar a pesquisa para outras
universidades. “Vamos tentar aprimorar o aparelho de coleta do ar exalado e
depois conseguir uma parceria com indústrias para o desenvolvimento
tecnológico. Se tudo der certo, dentro de um ou dois anos a técnica já estará
disponível.”
Agência Brasil)
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